Tuesday, July 06, 2004

Arquivo da Internet

Jornal Público
05-07-2004

«Vários países avançam com soluções próprias para os seus sítios na Web
À Procura de Um Modelo de Arquivo da Internet
Segunda-feira, 05 de Julho de 2004

Pedro Fonseca

A França e a Inglaterra avançam para um arquivo estruturado da Web sob o respectivo domínio. Em Portugal, um ano após o apelo público de Pacheco Pereira, não há novidades.

Em Junho, a British Library iniciou um projecto a dois anos para a preservação de 6000 sítios na Web. Liderado pelo UK Web Archiving Consortium (UKWAC), o objectivo é armazenar informação válida em termos escolares, culturais e científicos disponibilizada na Internet. Este consórcio ( www.webarchive.org.ukx ) conta com a participação das principais bibliotecas nacionais e grupos de investigação.

Também em Junho, a Biblioteca Nacional de França (BNF) lançou o tema de depósito legal do domínio .fr. A conservação da Web é um "quebra-cabeças" para qualquer arquivista, como referia então o diário francês "Libération", com o constante aparecimento, actualização e morte de tantos documentos. Em entrevista a este jornal, Jean-Noël Jeanneney, presidente da BNF, referia que a discussão sobre este assunto terá lugar na Assembleia Nacional no Outono, quando for abordado o projecto de lei relativo aos direitos de autor e direitos conexos na sociedade da informação.

Para já, salienta, é necessário definir "critérios selectivos", exemplificando que a Austrália armazena extractos dos conteúdos dos sítios na Web, enquanto a Suécia "fotografa" o conjunto dos seus sítios com intervalos regulares desde 1997 e outro países "privilegiam o depósito voluntário". Pelo seu lado, o presidente da BNF quer experimentar uma colecta temática de sítios, o registo de todo o domínio .fr usando a tecnologia sueca e ainda o depósito de certos sítios (para o que já existem dezenas de acordos), que não deverá ser obrigatório mas estimulado junto dos actuais 250 mil endereços, com cerca de 100 milhões de páginas (ver experiências actuais em www.bnf.fr/pages/infopro/depotleg/dli_intro.htm ).

Mas não sendo obrigatório, este depósito poderá funcionar em termos de memória futura? "A exaustividade já era impossível para o audiovisual", lembra Jeanneney. "Se não podemos guardar tudo, podemos esperar conservar o essencial para que o nosso tempo seja inteligível para as gerações futuras".

Mas a França não olha só para a sua estrutura cultural. A BNF foi também a dinamizadora, em 2003, da criação do International Internet Preservation Consortium (IIPC), um consórcio internacional de bibliotecas nacionais. Entre os seus objectivos, explicitados em Maio passado ( http://netpreserve.org ), contam-se o trabalho cooperativo tendo em conta os quadros legais nacionais, para identificar, desenvolver e facilitar a criação de soluções para a recolha e a preservação de conteúdos, facilitar a cooperação internacional entre arquivos e a sensibilização internacional para novas iniciativas.

O IIPC conta com as bibliotecas nacionais da Austrália, Canadá, Dinamarca, Finlândia, França, Islândia, Itália, Noruega, a British Library, a Suécia e ainda a Biblioteca do Congresso e o Internet Archive, ambos nos EUA. Portugal não está presente nem foram ainda divulgados quaisquer projectos neste sentido, apesar de, há cerca de um ano, o então eurodeputado Pacheco Pereira ter apelado nas páginas do PÚBLICO para "O 'Depósito Obrigatório' da Internet Portuguesa".

Escrevia então que "uma parte muito significativa do retrato do Portugal contemporâneo perde-se todos os dias sem apelo nem agravo: a Internet portuguesa". Salientando que "guardamos e bem os jornais de paróquia, perdemos e mal as páginas pessoais, os fanzines obscuros, as revistas electrónicas, os blogues apagados, os 'sites' de futebol, os locais de raiva e paixão, 'hobbies' curiosos, páginas que duram a brevidade de uma campanha eleitoral, elogios e insultos (mais os insultos) nos 'newsgroups', 'chats' estudantis com linguagens únicas, grafismos de 'pastiche', mas reveladores de um gosto ou de escolhas de imitação, músicas experimentais, primícias literárias, obsessões, cultos, etc., etc."

Isto apesar de "o Portugal que fala na Internet [ser] apenas uma parte do Portugal contemporâneo, uma parte muito reduzida, com acesso ao computador, socialmente muito definida, em grande parte urbana e juvenil". "Mas a sua voz mostra-se na Internet como em nenhum outro lado, numa altura em que cada vez há menos cada uma destas coisas em papel. E, se não se pode conhecer a vida de uma aldeia ou vila pequena sem o jornal local, mesmo que se fique pelas notícias de formaturas (em desuso a não ser nos jornais de emigrantes), casamentos ou necrologias, também será difícil perceber os nossos dias sem a Internet portuguesa".

Pacheco Pereira afirmava que "a blogosfera devia ter um "depósito obrigatório" imediato. Os blogues, enquanto formas individualizadas de expressão, originais e únicas, são uma voz imprescindível para se compreender o país em 2003. Eles expressam um mundo etário, social, comunicacional, cultural, político que, sendo uma continuação do mundo exterior, tem elementos 'sui generis'" - sendo "um bocado como a correspondência nos séculos XVIII e XIX, uma rara fonte para um reverso da história institucional oficial ou dos seus avatares".

E finalizava Pacheco Pereira perguntando: "Quem guarda os CD-ROM, quem guarda os discos alternativos, quem guarda os fanzines, quem guarda os panfletos políticos e a parafernália dos objectos de campanha, quem guarda os arquivos digitais, quem guarda a Internet portuguesa? Ninguém, diz o romeiro".»

1 Comments:

At 10:58 AM, Blogger Daniel G. said...

Muitos anos depois mas há novidades: www.arquivo.pt

 

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